10 agosto 2011
e de repente é noite (XVII)
Onde estavas tu no início desse verão?
Não vieste inclinar-te na semi-obscuridade
do poema, e não se cumpriu
esse perigoso ofício de acrobata
de transferências e ressurreições inacabadas.
Contigo estavam as metáforas mais raras.
Tua fala fixava o inefável de todos os instantes.
Percorria-me um tremor de raiva, a tua ausência.
Despertava para o infinito dos dias
e tudo era um disco negro
no fundo de uma espiral de ouro.
Então, só, eu era eu e as minhas imagens,
mais do que eu e a minha circunstância.
Com elas existia no vozear das esplanadas.
O tu não estares cobria-me de esquecimento
dos nomes das ruas e das pontes
e iluminava-me da discreta melancolia
dos deuses omitidos.
E ficava a ver como quem dorme, paisagens
Suspensas do clamor agudo dos corvos.
E sempre um excesso de brilho
emoldurando a mais profunda noite.
Poemas de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: algures, em Candoso.
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1 comentário:
Bom dia, Aníbal!
Lindo o poema e linda a foto!
Parabéns e, obrigada pela partilha!!!
Tenha um dia descansado!
Anita
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