14 maio 2007
Das aldeias, Santa Comba...
No dia 12 de Maio pedalei até Santa Comba da Vilariça. Decidi descer de Roios até Lodões, seguir até Santa Comba. O caminho de regresso seria via Trindade, sem grandes voltas ou aventuras.
Quando se visita uma aldeia, ainda mais Santa Comba, não se consegue ver tudo em pouco tempo.
Em 1967, Raul de Sá Correia, enviou para ao Chefe dos Serviços Culturais dos CTT em Lisboa, a seguinte descrição de Santa Comba a fim de ser elaborada a pagela comemorativa da inauguração dos correios na freguesia: “Situada na margem direita da Ribeira da Vilariça, privilegiada por um dom da Natureza, que a situa no afamado Vale da Vilariça, de quem alguém escreveu um dia: “Aldeia tão airosa e bonita, que mais parece um pormenor de um presépio de Machado de Castro” e que o cancioneiro Trasmontano dedicou a popular quadra que correu mundo e reza assim:
Das cidades, o Porto;
Das Vilas Vila Real;
Das aldeias, Santa Comba;
Das quintas a do Carrascal.
Santa Comba da Vilariça, porque pertence ao Concelho de Vila Flor é, também, uma Flor e quem uma vez calcorreou e observou a sua vida, a sua maneira de ser tão particular e simples, jamais a esqueceu.”
Depois de ler palavras tão apaixonadas sobre Santa Comba é impossível abeirarmo-nos dela sem expectativas de uma tarde bem passada.
Como não se trata da minha primeira visita à aldeia, os meus “alvos” preferenciais estavam mais ou menos definidos, mas há sempre coisas que nos surpreendem. A igreja, os cruzeiros medievais e a chaminé da antiga Casa Ochoa são os pontos turísticos mais conhecidos e também aqueles entre os quais me iria movimentar.
Curiosamente Santa Comba tem um Pelourinho classificado como Imóvel de Interesse Público (Dec. nº 23 122, DG 231 de 11 Outubro 1933)! A este respeito, quando o Sr Presidente da Câmara foi questionado em 1968, responde o seu Chefe de Secretaria “ … não existe qualquer Pelourinho, pois, aqueles símbolos de autonomia Municipal, neste concelho, só existem: em Vila Flor, Freixiel, e Vilas Boas…”. Pela a informação a que consegui aceder, sou levado a pensar que o Pelourinho em causa é o Cruzeiro se encontra no entroncamento entre a Avenida Lucinda Oliveira e a continuação da estrada N603 para Vale Frechoso. Não vi outra referência que não aponte nesta possibilidade.
Depois de deixar este cruzeiro para trás, dei comigo no Largo das Eiras. A aldeia tem um conjunto de locais espaçosos, arejados e arranjados, que contrastam com ruas estreitas de casas em rijo granito, entrecruzadas com outras de pedra mais miúda, de origem mais modesta.
O “centro” actual, situa-se um pouco mais adiante. Num espaço agradável, que combina xisto e granito, olhando à volta, encontramos; um banco, o posto do turismo (e GAC), um restaurante, um café, um supermercado e um talho. No centro do espaço uma fonte. Esta singela fonte que me saciou a sede, foi motivo de festa em 1939. “Festa das melhores, festa de que compartilham alegremente, jubilosamente, pobres e ricos – novos e velhos”, escreveu o enviado especial, encarregado de cobrir a inauguração do abastecimento de água à aldeia. O Dr Francisco Guerra acompanhou o Sr Governador Civil, que cavalgando, visitaram a captação situada no Rego do Souto, regressando a tempo para ouvir a Banda de Vila Flor, a Tuna da Casa do Povo de Vale Frechoso e assistirem a uma missa na Igreja Matriz, onde os aguardava uma guarda de honra constituída pelos alunos das escolas feminina e masculina.
Continuei o meu passeio até à igreja. Já conhecia o bonito frontespício com as suas duas colunas, uma de cada lado da porta. Trata-se de uma igreja barroca, datada de 1719.
No seu interior fui surpreendido com esplêndidos altares em talha dourada do século XVIII, recentemente recuperada. Do lado direito do Altar Mor está S. Pedro, padroeiro da freguesia. Perto dele, a imagem de Santa Comba, ligeiramente rodada para o público. Segura o livro na mão esquerda, mas falta-lha a palma na mão direita. Também chamou a minha atenção o brasão que se encontra por cima do Altar Mor.
Demorei-me na igreja, mas ainda tive tempo de subir ao Calvário, ver a chaminé dos Ochoas, visitar a Casa das Rendas e fotografar o último cruzeiro quando saí da aldeia em direcção à Trindade.
O tempo passou sem eu dar por isso! Já era muito tarde. Calculei como hora provável de chegada a Vila Flor, as 21 horas, não me enganei muito.
Não me cansei de Santa Comba. No dia seguinte voltei, de carro, com a família, à descoberta de outros atractivos que aldeia oferece. Deles falarei noutra oportunidade.
Quilómetros percorridos neste percurso: 43
Total de quilómetros de bicicleta: 1093
Total de fotografias: 22 925
Nota: a fotografia VilaFlor496 não é de minha autoria. Trata-se da reprodução de uma existente no Museu Municipal Berta Cabral.
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5 comentários:
Olá caro Xo_oX.
Grande passeata e tanta história que tem Santa Comba, terra do amigo Vilares, é um belo passeio mas tu dás-lhe este cunho especial de o tornar uma narração numa viagem as nossas terras. Gostei de ver aqui representado o que já vi ao vivo e confirmo que não exageras nada, pois é mesmo assim.
Um abraço.
Li Malheiro
Ola,antes demais gostei muito de ver mais uma vez Santa Comba revista aqui. É uma aldeia muito rica em património e o destaque aqui feito é muito bom. Só queria mencionar que a Avenida onde se encontra o Cruzeiro não se chama Av. D. Lucinda Pereira mas sim Av. D. Lucinda de Oliveira..
Obrigado pela correcção.
Voltarei a "falar" de Santa Comba. Há muita coisa ainda que pretendo descobrir, quem sabe, mostrar.
Li
Vê se vens até cá, (carago)...
Sempre podíamos fazer uns percursos juntos, como nos velhos tempos.
Aquele abraço
Olá Anibal,
mais uma vez me deliciaste com a tua alma caminheira a qual é de definitivamente muito boa observadora e consegue realmente transmitir o teu olhar de uma forma simples mas completa. Fica novamente prometida a tal merenda que havemos de partilhar com o nosso amigo (alguma coisa se lhe há-de arranjar!)
Abraço transmontano
Manuel Vilares
Quando tenho um tempinho, venho deliciar-me com imagens magnificas da nossa terra.
Parabéns por este belo passatempo(?)...
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