18 maio 2007

Descobrir Vila Flor no Museu Drª Berta Cabral

Há infinitas alternativas para se partir à descoberta do concelho de Vila Flor. Uma, a que eu escolhi, sair por aí percorrendo estradas e caminhos, visitando aldeias, subindo às serras, percorrendo os vales, ouvindo as histórias e descobrindo as cores. Outras, alternativas, vou-as descobrindo à medida que de espectador me torno actor.
É possível descobrir Vila Flor nos livros, nos sonetos dos poetas, nos quadros dos pintores, nos feitos de homens e mulheres que construíram esta terra.
Hoje, Dia Internacional dos Museus, aponto mais uma alternativa: o museu. Longe da conotação estática e de passado que por vezes se lhes atribui, os museus são locais de arte, de inspiração (templo das nove musas que cresceram perto do Monte Olimpo).
O Museu Dr.ª Berta Cabral foi fundado em 1957, ocupando um antigo solar, onde tinham estado instalados os Paços do Concelho. A adaptação do edifício fez-se também à custa de algum dinheiro disponibilizado por Eduardo Costa Cabral, marido de Berta Cabral, contribuindo também (ambos) para o enriquecimento do acervo, quer da biblioteca, quer do museu, com livros, quadros a óleo e outros objectos.
O museu cresceu, tornou-se mais rico, graças à boa vontade de muitos vilaflorenses e ao esforço de Raul de Sá Correia, fundador e seu director até à data da sua morte, em 1993.
Vamos então partir À Descoberta do Museu.
Não querendo alongar a visita com considerações sobre o edifício e área envolvente, que são bem dignos de reparo, entramos a porta e estamos na Sala de Arte Sacra. Centenas de peças, algumas com séculos de história, baralham o nosso olhar. Depois de uns segundos de adaptação, começamos a olhá-las, a descobrir a sua beleza, os seus segredos e a sua história. São centenas de histórias para ler e ouvir. Desde o Oratório-Secretária de 1739, com pintura original e cinco compartimentos secretos, até ao painel em madeira de castanho representando S. Bartolomeu, Padroeiro de Vila Flor, que se pensa tenha sido utilizado como tampo de mesa, até que alguém reconheceu o seu valor e o ofereceu ao museu (José Lourenço Ochoa, de Santa Comba da Vilariça). Deliciamo-nos com uma custódia em madeira de castanho (séc. XVI), com crucifixos e outras representações de santos.
Passamos à Sala Dr. Alexandre de Matos. Aqui, casam a tecnologia e etnografia com amostras de outras áreas. Depois de admirar-mos os quadros a óleo do Dr. Eduardo Cabral e da Drª Berta Cabral, somos obrigados a reparar nas relíquias tecnológicas que ali nos esperam. Uma máquina de escrever datada de 1870, poucos anos depois de ter sido construída a primeira máquina de escrever! Seguem-se mais algumas dezenas de outras máquinas, rivalizando todas elas no design e fazendo pensar aqueles que reclamam da velocidade dos microprocessadores da última geração. Podem também ser admiradas calculadoras, máquinas fotográficas, máquinas de costura, moldes de sapateiro etc.
Destaca-se nesta sala uma frente de sacrário, de estilo renascentista, feita de uma só peça de castanho, com 1,33 metros de altura e 0,72 metros de largura, que pertenceu à capela do Solar dos Lemos.
Seguimos para a Sala Pintor Manuel de Moura. Chamam-nos à atenção quadros, fotografias e bustos, de personalidades nacionais e ilustres vilaflorenses: Artur Trigo Vaz, Dr. Maximino Correia, Eng. Camilo de Mendonça, entre outros. Perdemo-nos depois, olhando os quadros, que vão desde a singela representação do barracão no lugar do Barracão, em Samões, continuando com pinturas dos monumentos mais representativos da Vila e terminando com uma fresta na cortina azul num quadro de Graça Morais. Depois de saciados os olhos com a cor, passamos sem demora aos relógios de bolso, para descobrirmos que afinal, noutros tempos, Roskopf era marca de prestígio. Admiramos também uma bonita colecção de notas e moedas terminando em ouro, numa moeda de ouro Visigoda.
Dirigímo-nos à pequena Sala de Vila Flor. Aqui encontramos os rostos e a história de Vila Flor. Os forais: o primeiro, de D. Dinis em 1286 e o segundo, de D. Manuel I, de 1512. Este último é original, assinado pelas próprias mãos do Rei.
Também podemos encontrar aqui muitos livros escritos por vilaflorenses.
Saímos à rua e descemos à Galeria, no rés-do-chão. Entre estrelas funerárias, tégulas e marcos da Ordem dos Hospitalários destaca-se um enorme Berrão, encontrado 1967 no sopé do Santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas, que o Sr. Prof. Dr. Santos Júnior classificou de “maravilha”.
Também aqui está o primeiro telefone instalado em Vila Flor (e na província de Trás-os-montes), em 1890, com o qual Belmiro de Mattos falava de Vila Flor para e as águas de Bem Saúde (em Sampaio).
Seguimos para a Sala das Louças. Lampiões, candeeiros, candeias, açucareiros, pratos, galheteiros… de tudo que na cozinha havia, podemos encontrar nesta sala, mas também rádios, televisões, grafonolas e instrumentos musicais vários. Também aqui há poesia, gravada em bonitos pratos de fina porcelana:
“Esta formosa terra, nossa amada,
Que Povoa se chamava, do Sabor,
A qual sendo outrora visitada,
Pelo Rei D. Dinis, o lavrador,
De rosas a viu tão adornada,
Que o nome lhe deu de Vila Flor.”
Terminamos a visita na Sala Africana. Estão expostas cerca de 400 peças, a maior parte delas trazidas das ex-colónias e posteriormente oferecidas ao museu. Podemos admirar peles de animais, marfim, armas e esculturas. Também aqui se encontra uma bonita e enorme gaiola, feita em madeira de embondeiro, que parece pesar muitos quilos mas que se levanta com dois dedos, como se fosse de esferovite.
E quando se pensa que não é possível assimilar mais nada, tratamos de subir de novo ao primeiro andar e entrar na Sala da Biblioteca. Há entrada espera-nos um dos maiores livros manuscritos, existentes em Portugal. Trata-se do “Tombo dos Condes de Sampaio” com 1225 folhas e 20 quilogramas de peso.
Está na hora de nos sentarmos um pouco. Olhando à volta, há cerca de 20 mil volumes que podem ser consultados. Se quisermos compreender muitas das coisas que vimos, há mais de 600 pastas com informação sobre personalidades nacionais, famílias notáveis, património do concelho, notícias envolvendo as aldeias, etc.
Se estivermos cansados, podemos relaxar, navegar um pouco na Internet, nos computadores disponíveis para o efeito, ou então, aproveitar o tempo e descrevermos a nossa própria descoberta ou aquilo que mais nos impressionou no Museu Drª Berta Cabral, em Vila Flor.

Morada do Museu:
Largo Dr. Alexandre Matos
5360-325 Vila Flor

Contactos:
Telefone: 278512 373
eMail: museu.berta.cabral@mail.telepac.pt

Horário de funcionamento:
Todos os dias excepto feriados
Manhã - 09:30h às 12:30h
Tarde - 14:00h às 17:30
Entrada gratuita


O meu muito obrigada ao sr. Rogério e a toda a equipa que ali trabalha, pela disponibilidade e paciência com que me têm tratado nos últimos meses.

1 comentário:

Rita disse...

Desculpe sabe alguma coisa sobre um conde de vila flor que usava um sapato gigante? ouvi dizer que estava em exposição num museu daí já há muitos anos atrás.. agradecia a informação