04 julho 2007

Em busca de vestígios arquológicos em Valtorno


No dia 28 de Junho fiz um pequeno passeio a Valtorno. Interessava-me visitar de novo o pequeno cabeço onde se situa o marco geodésico chamado Pendão (737 metros). O meu interesse neste pequeno monte, recentemente ardido, prende-se com o facto de aí ter descoberto algumas espécies vegetais bastante surpreendentes, que não tinha visto em mais nenhum ponto do concelho, e outras que desconhecia por completo.
O dia estava muito quente e só saí depois da dezassete horas. Tentei chegar a Valtorno o mais rapidamente possível e por isso fui mesmo pela estrada. Ao chegar, entrei na aldeia e lembrei-me da Capela de Nossa Senhora da Luz. Nunca a tinha visto, apesar dos vários passeios que já fiz por toda a aldeia! Procurei a sua localização junto de alguns residentes. Fica mesmo por trás do Centro de Dia e rapidamente a encontrei. Pelas fotografias que já tinha visto não estava à espera de grande coisa, mas, quando vi a pequena capela rodeada de rosas vermelhas com o campanário recortado no céu azul, fiquei encantado. Não quis perder o cenário e procurei um ângulo que me satisfizesse. Não é fácil, há muitos ferros e arames à volta.
A Capela de Nossa Senhora da Luz foi construída no séc. XVI ou XVII aparecendo referenciada em 1758. Pertenceu à família dos Sequeiras e depois à família Teixeira de Almeida . O seu campanário é elaborado e bonito, destacando-se nele uma grande flor. Está encimado por uma cruz que tem aguentado décadas de abandono. Tirando o pórtico e o campanário, a capela é feita de granito miúdo. Curiosamente existe à volta um pequeno adro, o que leva alguns autores a questionarem a origem privada da capela.
Entrei, já não havia porta. Outra surpresa. Nas paredes mal tratadas, que ameaçam ruir a todo o momento, sobrevivem ainda alguns vestígios das pinturas que devem ter coberto a quase totalidade das paredes. Tentei registar toda a sua delicadeza tirando algumas fotografias, sem flash. O suporte do altar ainda lá está, aguentando anos de uso como palheiro e talvez como corte de animais. Não vi qualquer evidência da existência de sepulturas nas suas paredes embora estejam referenciadas. No silêncio e no abandono do local, recordei a airosa Capela de Nossa Senhora da Luz, junto à fronteira, em Constantim, Miranda do Douro, que visitei, de bicicleta, em 13 de Maio de 2006.
Desci a aldeia, passei pela Capela de Santo Cristo e segui pela estrada em direcção ao Mourão. Na berma reencontrei uma das curiosidades que pretendia ver. Podem acreditar que esta foi a quarta vez que aqui estive a ver as Esporas-bravas ou silvestres (Linária Triornithophora). Não sei se existem noutros locais do concelho, parecem ser abundantes em todo o Norte de Portugal. Aqui encontrei uma área cheia delas (embora agora já se vejam poucas floridas). Esta flor é muito curiosa e fotogénica, adquirindo várias tonalidades de roxo e apresentando algumas duas manchinhas amarelas. As folhas são verticiladas em grupos de quatro, sem recorte e lanciformes.
Quando as sombras cobriram o brilho das flores, olhei em frente. Na outra margem da ribeira devia estar o Cabeço Murado (Cabeça Murada para os de Valtorno), que eu já tinha procurado mas em vão. Pedalei até à Fonte Paijoana e recomecei as buscas aí. Saltei de rocha em rocha até chegar ao topo do cabeço, nem rasto de muralhas. De repente, duas pedras sobrepostas, mais duas logo a seguir. Comecei a acompanhar o percurso e logo à frente encontrei uma verdadeira parede. Segui a parede durante algumas centenas de metros e encontrei outras paredes. Já não tinha dúvida, estava no lugar certo. Parece-me existirem vários níveis de muros concêntricos em volta do monte. Descaindo um pouco para Sul, encontrei um pequeno vale onde outrora deve ter corrido um ribeiro. Nessa zona, mais fresca e abrigada, há restos de casas e muralhas à sombra de pinheiros e carvalhos. Segui essa linha de água e vim parar mesmo por detrás da Fonte Paijoana. Muito havia por ali para eu explorar, mas, o sol estava baixo, já não podia fotografar. Saí a toda a pressa. Calculei a minha chegada a Vila Flor, pouco depois das vinte e uma horas. A saída tardia de casa, limitou-me o tempo, mas, mesmo assim, foi uma grande tarde “À Descoberta”.
Quilómetros percorridos neste percurso: 25
Total de quilómetros de bicicleta: 1345
Total de fotografias: Perdi a conta

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