Quem entra em Vila Flor pela primeira vez, depressa se apercebe que a Igreja Matriz de Vila Flor, igreja de S. Bartolomeu, ocupa um lugar central, único na vila. Esta posição central, elevada, entre a Praça da República e o Rossio, situa-a no coração da vila antiga, rodeada por casas centenárias que se alastram a casas solarengas, arrumadas em ruas lageadas a granito, tal como o ferreiro ou o judeu da idade medieval as percorreram.
Esta posição, reza a história, era ocupada por uma torre de menagem do castelo, que cedeu o lugar e as pedras para a construção de uma igreja, logo a seguir ao desmoronamento do castelo. Esta igreja, deu por sua vez lugar à igreja actual. Janeiro é uma data histórica para esta igreja. A antiga terá ardido exactamente em 31 de Janeiro de 1700, vai fazer agora 308 anos. A construção da nova foi um processo demorado e talvez doloroso. Tão demorado e doloroso que levou à circulação da canção:
Vila Flor já não és Vila
Nem vila te chamarão
Porque te caiu a igreja
E tarde a levantarão.
O povo uniu-se, com ele a câmara, e, com a ajuda dos judeus, cristãos novos de Vila Flor, a obra começou a ganhar corpo. Também reza a lenda, não sei se verdadeira, de um benemérito se aproximou da comissão promotora das obras com um chapéu cheio de peças em ouro que entregou para continuação das mesmas!
A sua imponência coloca-a em terceiro lugar a nível do distrito de Bragança, logo depois da Sé de Miranda do Douro e da igreja matriz de Torre de Moncorvo.
O edifício tem uma planta longitudinal com uma nave única e capela mor rectangulares. Tem de comprimento 42, 2 metros, 14 metros de largura e 15,2 metros de altura. A norte tem uma capela lateral e a sacristia. O frontispício é curioso para trás-os-montes, forrado a azulejos de padrão azul e branco, franqueado por duas torres sineiras. O portal, de vão recto é flanqueado por 2 colunelos pseudosalomónicos assentes em pedestal vivamente decorado, enquadra-o decoração exuberante em volutas e rendilhado de ambos os lados. Todo os frontispício está de tal forma decorado com bonitos motivos em granito, que facilmente nos esquecemos dos azulejos em azul e branco. Em termos arquitectónicos trata-se de uma igreja barroca que combina elementos decorativos de tradição maneirista. Nas fachadas laterais também podemos encontrar alguns elementos decorativos dignos de realce.
As duas torres têm 25 metros de altura e a do lado Sul tem um bonito relógio adquirido em 1895 e um sino de 1783. A torre Norte tem um sino de 430 quilos que foi ali colocado em 26-11-1914.
Passemos ao interior onde podemos contar 7 altares. Dois deles merecem um destaque especial dado tratar-se de altares de talha dourada, antiga, que vieram de igreja de Santa Maria Madalena, na Falperra em Braga, excelente exemplar rococó, onde dei largos passeios há alguns anos atrás. Também digno de destaque é o painel pintado a óleo pelo vilafrorense Manuel de Moura em 1978 que se encontra à direita do altar-mor.
A única capela lateral, chamada Capela do Santíssimo, é dedicada a Nossa Senhora das Graças (mas já foi capela de Nossa Senhora da Piedade), tem armas e pedra sepulcral com inscrições. Sobre o arco da capela pode ver-se o brasão dos Condes de Sampaio, donatários de Vila Flor.
Um dos aspectos mais curiosos é o bonito presépio, com mais de meia centena de imagens, embutido no altar do Sagrado Coração de Jesus.
A igreja tem pintado no lado esquerdo do altar-mor o ano de 1787. Já em 1867 houve obras de reparação, o mesmo acontecendo em 1909 e 1916. Uma das intervenção de maior vulto na igreja aconteceu entre Abril de 1944 e e Setembro de 1945. Foram feitos, entre outros, os seguintes melhoramentos: substituição de azulejos em falta, por imitações do séc XVIII; substituição do telhado; substituição das cúpulas das agulhas, as novas com mais 1,8 metros; consolidação das torres; picagem, substituição do revestimento e caiação de todo o exterior e construção de um passeio a toda a volta. No interior: pavimentação do átrio a granito; soalho novo; douramento dos púlpitos; douramento e reparação do altar-mor e dos dois laterais; pintura da capela da Senhora das Graças, com soalho novo e restauro do altar; restauro do tecto da capela-mor; compraram novos bancos, foram colocados vitrais, foi forrada, posto o soalho e caiada a sacristia, etc. Foram obras que mudaram por completo a igreja. As últimas obras realizaram-se no final de 2007 sofrendo intervenção a capela da Senhora das Graças e a sacristia.
Paralelamente a tudo o que pode ser admirado neste belo monumento, há todo um conjunto de arte sacra que não está à vista: um rosário em ouro, uma cruz em madrepérola com contas em ouro, cinco cálices de prata, uma custódia em prata, uma cruz processional em prata, uma cruz em pau preto com raios e cantos em prata com o Cristo em marfim que foi do convento da Falperra em Braga, uma capa de Asperges bordada a ouro, etc.
Para evitar abusos e roubos, a igreja tem instalado um completo sistema de segurança, incluindo detectores de movimento e vídeo vigilância.
Neste meu curto passeio À Descoberta, contei com a colaboração do Sr. Padre Delfim Gomes. A ele o meu muito obrigado.
2 comentários:
Grande foto da Igreja Matriz de Vila Flor.Foi tirada de um ângulo que eu acho nunca tinha visto antes.
Está formidável!
Conheço outras fotos também muito bonitas de outros ângulos mas esta não lhes fica atrás.
É tão só mais uma memória visual fantástica da riqueza de Vila Flor.
Obrigado Aníbal.
Rui Guerra-1/2/2008
Olá tio!
Mais uma foto fantástica...estou agora a fazer um trabalho para a disciplina de História da Arte e gostaria muito de lhe poder fazer uma pequena entrevista acerca da igreja matriz de vila flor.
Um beijinho
Vera Félix
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