Está um ar gelado, um nevoeiro que não deixa ver os horizontes largos que se avistam normalmente nestas paragens. Está um ambiente “de cortar à faca” e não é só na rua!
Estes dias em que só apetece estar à lareira, trazem-me recordações de outros Invernos, até do tempo da minha meninice, em que as estações tinham significado e as datas valor. Uma das recordações que deixei para trás há alguns anos, recuperei-a este ano, trata-se da matança do porco.
Eu sei que (também) este assunto não é pacífico. Já recebi algumas mensagens de pessoas escandalizadas com algumas coisas que escrevi noutros sites web sobre este assunto. Compreendo, eu próprio me afastei desse ritual pelas emoções que me provocava, apesar de a “matança” continuar a ser feita. Curiosamente já assisti este ano a mais do que uma. Apesar de todas as transformações que ocorreram, a tradicional matança do porco ainda se mantém um pouco por todas as aldeias do Nordeste. Isso leva-me a pensar que tudo o que estava a ela associado também ainda se mantém. Estando nós na terra fria (dentro da Terra Quente), não posso deixar de me lembrar da importância que o porco e o fumeiro têm em locais como Vinhais e Montalegre ou Valpaços. Também em Miranda do Douro houve uma forte campanha na adaptação e certificação de cozinhas para a produção de fumeiro com qualidade. Assim se entende que exista uma Feira de Sabores Mirandeses (2,3 e 4 de Fevereiro, que espero visitar).
Mesmo sem pretensões de rivalizar com o azeite e com o vinho, o fumeiro pode ter um papel importante e não só para consumo próprio. Como com alguma frequência alheiras de muito boa qualidade feitas em Vila Flor. Será um bom assunto para uma próxima reportagem.
4 comentários:
Viva a matança do porco! Algo que vem dos nossos antepassados e que não pode desaparecer! Então se o "bicho", se o porquinho, é "cebado" para se transformar nas tão apetitosas chouriças, salpicões, presuntos, etc. não haviamos de o matar de forma tão típica e tradicional? Só quem nunca viu ou nunca participou é que pode vir criticar... Mas mesmo esses não deitam fora nem deixam de apreciar o fumeirinho!
Quando li o título "A matança do porco" ainda me figiu o pensamento par outro tipo de "porcos" (aqueles da política porca...), mesmo ainda para outro tipo de "porcos" do tipo "Baía dos Porcos" (da revolução cubana, lembram-se?... Ai as voltas que o CHE GUEVARA deve dar no túmulo com os malabarismos destes pseudo-socialistas cá de Portugal...), passou-me ainda pela ideia o "porco do dinheiro" que os putos conhecem com o pomposo nome de "mealheiro", mas esse era impossível de matar, pois da forma como o nosso povinho anda de bolsos vazios, sem "cheta"... não há porco para ninguém!!! Bom, depois de ler tudo, fiquei mais despreocupado e passei os meu pensamentos para os tempos idos e para esta tradição e, claro... para os salpicões, chouriças e presuntos!!! Sempre é mais agradável!!!
Cuidado com os chulos da ASAE
A "matança do porco" é tão só um gesto de economia familiar e de sobrevivência , quem tem porco na salgadeira, tem peguilho logo, em principio, tem uma casa onde não há fome. Por isso está tão arreigado aos hábitos transmontanos,e ainda perdura e é transversal a todo o território nacional, e tem uma cultura de transformação que seduz os paladares mais requintados.
Se pensarmos que a matança completa um circulo na rotina anual da família, que depois de todos os trabalhos árduos no campo tem agora na época fria este aconchego que, depois de acomodado na dispensa, vai tranquilizar os receios de que a fome não virá bater a esta porta.
Uma tradição com muitos fundamentos, que esperamos haja o bom senso de não a proibir.
Saudações a todos os que dissertaram sobre o tema, pois para além da criatividade, mostra que é um tema nosso.
At Ento
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