O museu Berta Cabral vai comemorar amanhã (dia 30 de Novembro) os seus 50 anos existência. A proximidade deste acontecimento levou-me a fazer algumas reflexões sobre uma pessoa que ficará para sempre ligada à história deste museu, Raul Alexandre de Sá Correia.
Raul Sá Correia nasceu em Vila Flor a 22 de Maio de 1900. Fez a sua instrução em vários locais mas volta a Vila Flor, com 12 anos de idade começando a trabalhar num estabelecimento comercial. Poucos anos depois radica-se em Lisboa, voltando a Trás-os-Montes para cumprir o serviço militar. Em 1924 parte para Angola e em 1926 para o Brasil, depois de ter regressado de Angola. Em 1930, tendo já 30 anos, regressa a Vila Flor sendo nomeado chefe da secretaria de Câmara Municipal de Vila Flor. Mantém-se nessas funções até 1970, altura em que cessa funções, por limite de idade.
Morre a 8 de Dezembro de 1993, em Lisboa, sendo sepultado em Vila Flor, no dia seguinte.
A ideia da criação de uma biblioteca municipal de leitura domiciliária começa a ganhar forma em 1947, e em 1954 inicia-se o restauro do edifício dos antigos donatários de Vila Flor, do séc. XIII, a fim de ser adaptado a biblioteca e museu. A biblioteca foi fundada em 1946 e o museu em 1957.
Se é reconhecido por todos os vilaflorenses o seu seu papel na criação e manutenção da biblioteca e do museu, pouco se tem dito do seu desempenho enquanto chefe de secretaria da Câmara Municipal. A este respeito, afirmava Guilherme Miller Guerra, em 1970, aquando da cessação de funções de Raul Sá Correia: “Quero ainda lembrar uma frase tantas vezes dita por meu pai: com colaboradores como o Raul, custa bem pouco ser presidente”.
Nesse mesmo ano renunciou à gratificação de 600$00 mensais que lhe foi atribuída, em complemento à sua reforma, pelo desempenho de director do museu. Esta gratificação tinha sido autorizada pelo Conselho de Ministros, sob proposta da Câmara Municipal de Vila Flor.
A biblioteca é pouco utilizada, apesar dos mais de 22 mil livros. Eu já recorri a ela, encontrando um grande número de livros sobre Vila Flor ou escritos por vilaflorenses, que não consegui encontrar em mais lugar nenhum. Na era da tecnologia, em que as bibliotecas deram lugar a mediatecas e ludotecas, são os dois computadores existentes no museu e com ligação à Internet, que têm uma utilização quase ininterrupta.
Quanto ao museu, são mais de 2 mil objectos, distribuídos por várias salas, tendo uma o nome de Raul de Sá Correia. Curiosamente, o acervo talvez mais valioso, e aquele que mais orgulhava Raul de Sá Correia, não está visível numa simples visita. Trata-se do arquivo da Biblioteca-Museu. Na década de 30 começou a organizar “dossiers” sobre os habitantes de Vila Flor, ascendência e descendência. Em Junho de 1946 oferece à Biblioteca Municipal mais de mil recortes de jornal que diziam respeito ao concelho de Vila Flor e suas gentes, que foi juntando desde 1931. A oferta tinha uma condição: a Câmara Municipal ficava obrigada a dar-lhe continuidade, adquirindo jornais e outras publicações que permitissem continuar o enriquecimento do conjunto.
Durante sessenta anos que Raul de Sá Correia passou a juntar "papeis", os arquivos foram alargados, novas pastas foram acrescentadas. Estão lá representados todos os vilaflorenses ilustres (com uma grande colecção de pastas para Cabral Adão), mas também políticos, escritores, intelectuais, jornalistas, actores, artistas plásticos, etc. Também lá estão pastas dedicadas a todas as freguesias do concelho e muitas dedicadas a freguesias de concelhos vizinhos, como por exemplo o de Carrazeda de Ansiães.
Este manancial de informação, embora não visível ao público, está disponível para consulta, tendo já sido utilizado por muitos estudiosos e alguns curiosos em busca da história da sua própria família. Eu tenho utilizado bastante estes arquivos na pesquisa de informação e o acesso sempre me foi facilitado. A actualização destes “dossiers” continua a fazer-se e além da pequena sala repleta de pastas, há outras arquivadas no rés-do-chão, permitindo um sem número de motivos de interesse.
Raul de Sá Correia era um homem de fé. Por isso, deve estar orgulhoso daquilo que conseguiu fazer com dedicação sem limites, até ao momento da sua morte, mas também satisfeito com a crescimento e vida patente no número de visitantes e de utilizadores que a Biblioteca-Museu continua a ter.
2 comentários:
Mais que justa a recordação do ilustre vilaflorense Raul de Sá Correia!!! Jamais poderá ser esquecido, pois a sua obra permanecerá através dos tempos...
A ele, o meu muito obrigada!!!
Cumprimentos
Anita
É uma pessoa a recordar que não devia nunca, cair no esquecimento.
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