No mês de Outubro aconteceu mais uma longa caminhada, que teve como destino a aldeia de Valbom, num dos pontos do concelho mais afastados de Vila Flor, no sopé da serra de Bornes. Tratou-se de um verdadeiro desafio. Este trajeto já tinha sido tentado uma vez, mas não foi concluído, terminando a viagem em Benlhevai, por falta de tempo.
A partida aconteceu bem cedo, e valeu a pena. Quando o sol surgiu lá para os lados do Felgar (Torre de Moncorvo) o céu cobrou-se de um rosa muito invulgar. Nunca tinha visto o céu com semelhante tonalidade.
A avenida andava em obras e o IC5 ainda não tinha sido concluída. Decidimos ir pela estrada até Roios, com a intenção de variarmos o percurso, mas também o de observarmos as obras de mais perto.
As obras da estrada podem ser vistas de várias maneiras; com admiração pela obra realizada; com expectativa com o hipotético desenvolvimento que vão trazer ou pela destruição que causam e o seu impacto na natureza. A caminho de Roios impressionou-me mais a destruição.
A passagem por Roios, Vale Frechoso e Benlhevai foi o mais rápida possível. Todos os caminhos já foram anteriormente percorridos noutras "Peregrinações". O tempo estava ameno e havia pessoas a trabalharem nos campos. Estávamos na altura das castanhas, mas a o ano não foi benéfico e as poucas que havia eram de muito má qualidade. Há castanheiros espalhados por quase todas as aldeias das zonas mais frias do concelho, mas creio que deve ser ao longo desta linha que seguimos que há mais, principalmente em Roios e Benlhevai.
Já há algumas pessoas que estão habituadas à nossa passagem. Quando as encontramos não podemos evitar alguns momentos de conversa, mas sempre a olhar para o relógio, para não se desperdiçar muito tempo.
Depois de passarmos sobre o IP2 (entre Benlhevai e Trindade) entrámos num percurso realmente novo. Os últimos quilómetros até Valbom nunca foram percorridos a pé e foi mesmo uma novidade fazê-los. A paisagem para o vale da Vilariça é sempre digna de se admirar. Neste pouco, quase no início do vale, avista-se a barragem da Burga e a freguesia de Vilares da Vilariça, já pertencente a Alfândega da Fé.
Valbom é uma aldeia bastante pequena pertencente à freguesia da Trindade. Já a visitei várias vezes anteriormente, mas tem a desvantagem de estar num extremo e por isso não é local de passagem para outras caminhadas.
Já chegámos a Valbom ao início da tarde. Mesmo com a preocupação de não perder tempo, a distância é muita, e o percurso não é propriamente plano.
Conseguimos que alguém nos mostrasse a pequena capela de S. Gregório. Apesar de pequena está muito bem arranjada e é bastante bonita. O último restauro aconteceu em 2008. A simplicidade das linhas da capela são compensadas pela beleza do seu interior e pelas imagens interessantes que apresenta. Todas as imagens estão restauradas. A mais curiosa, e já falei dela em visitas anteriores é a de Nossa Senhora do Parto.
No passado existia grande devoção a esta Nossa Senhora, por parte das grávidas em final de gestação e por parte dos familiares das mesmas. Faziam-se promessas para que no momento do parto tudo corresse bem e, pouco tempo depois do nascimento a promessa tinha que ser paga. Por vezes eram os familiares que se dirigiam à pequena capela para pagamento da promessa. Com a diminuição dos partos e também com a sua realização em unidades hospitalares este ritual foi-se perdendo.
Curioso é também o facto de existir na sacristia uma imagem de Santa Filomena. A iconografia não deixa lugar para dúvidas; tem uma âncora, uma palma e algumas flechas. Esta imagem não está restaurada, como as restantes e ocupa um lugar afastado do centro de culto. Tal facto pode dever-se às dúvidas que se levantaram há mais de cem anos sobre a sua santidade. Tendo vivido supostamente no séc. III, só no séc. XVIII é que a igreja lhe começou a prestar culto, em Itália. Apesar de o culto a Santa Filomena se ter difundido ao longo de muitos anos, a sua santidade, e mesmo a sua existência, são questionadas.
Terminada a visita à capela, pouco mais havia a fazer. Enquanto esperámos pelo transporte para casa ainda fizemos uma visita à fonte de Almoinha, que é um local interessante da aldeia, quer e pela fonte em si, quer pelo espaço circundante. É um local muito agradável, principalmente no verão.
Percurso:
Dintância: 18,37 km
Diferenças de Altitudes: 301 Metros (Altitude desde 380 Metros para 681 Metros )
Subida acumulada: 522 Metros
Descida acumulada: 698 Metros
A capela de São Gregório foi Freguesia Mistério 22, em 2008.
1 comentário:
Bom dia, Aníbal!
Além de uma descrição minuciosa de um grande percurso, a riqueza das fotos desperta, em nós, o desejo de fazer essa caminhada, mas, as pernas, pouco treinadas, já não nos permitem tal proeza...
Parabéns e, obrigada por fazer a partilha!
Um abraço
Anita
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