16 outubro 2007

no Alto da Caroça


Na minha ânsia na descoberta do concelho, acabei por nunca ter estado no Alto da Caroça, num ano de aventura. Porquê o Alto da Caroça? O que é que tem de especial? À partida nada. Trata-se de uma elevação de pouco mais de 580 metros de altitude, à saída de Vila Flor, pela pequena estrada que a liga a Sampaio. Para falar verdade, já estive bem próximo do Alto da Caroça! Foi na II Rota da Liberdade, dia 22 de Abril de 2007, quase no final da prova de BTT, depois de engolir muito pó por entre oliveiras e vinhas no Vale da Vilariça.
Já saí tarde de casa, depois das 4 da tarde, não dava para ir muito mais longe. O acesso é fácil. Depois de subir a pequena encosta, encontrei quatro caminhos no topo da crista rochosa. Optei pelo que seguia para Sul, em direcção ao ponto mais alto, onde se localiza o marco geodésico do Navalheiro (586 metros de altitude). Não podia deixar para trás, este marco geodésico, depois de já ter passado pela maior parte dos pontos altos do concelho. Enquanto seguia em direcção ao marco, fui apreciando a paisagem à minha volta. Alguma urze já se encontra florida, timidamente, sem muita convicção. Há conjuntos de enormes rochas que se recortam contra o horizonte. Nas costas da montanha, há eucaliptos, apenas eucaliptos. Devo dizer que não sou adepto da plantação massiva desta árvore. Quando foi feita a plantação de eucaliptos na Quinta do Caniço, há quase duas décadas atrás, foi uma coisa que me chocou muito, porque levava mais a peito a defesa do planeta.

Do alto não se tem uma vista completa do Vale da Vilariça. A visibilidade não era boa, não permitindo distinguir nada em direcção à Foz. Pelo contrário, a Junqueira aparecia bem visível. Depois, o monte de Santa Marinha interrompia a visão do Vale, podendo retomar-se de novo, a norte, e acompanhá-lo até à Serra de Bornes.
Mas, a paisagem mais bonita, estava noutra direcção, em direcção ao Poente. O Sol rasante penetrava nas folhas amarelecidas das videiras, arrancando-lhes reflexos de sangue e ouro. O verde das oliveiras recortado contra a terra despida e seca perdia-se desde os meus pés até à linha do horizonte onde o céu se misturava com a terra numa mistura leitosa, morna e ofuscante.
Depois de algumas fotografias, voltei para trás. O Alto da Caroça era em sentido contrário, para Norte. Tinha expectativas de ver uma outra perspectiva de Vila Flor. No alto, há alguns buracos que devem ter resultado de prospecções mineiras. Não encontrei propriamente um miradouro. Andei para trás em todas as direcções. Encontrei alguns medronheiros com frutos já bastante crescidos, quase maduros, que arrisquei provar. As sombras estavam chegando à Porta do Sol quando olhei para a Quinta de S. Gonçalo. A vista sobre Vila Flor não era nada entusiasmante, só me restava esperar o pôr-do-sol.
Antes que a noite invadisse os caminhos, parti a toda a pressa, pelas costas da serra. Esperava não me perder, não tinha muito tempo de luz. Quando atravessei a ribeira e encontrei a estrada de Roios, mesmo em frente à Quinta de S. Gonçalo, respirei aliviado.

Pedalei sossegadamente até casa acompanhado pelo fresco da noite, admirando os sombras que a iluminação projecta nas casas e estradas. As pessoas já estavam recolhidas. Só os pardais disputavam em grande confusão, o seu espaço para pernoitar, nas duas palmeiras em frente ao Centro de Segurança Social.
Quilómetros do percurso, em BTT: 10
Total de quilómetros em bicicleta: 1535

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá.
Foste, e muito bem, na melhor altura ao alto da Caroça. As estevas estavam lá em pose para este encontro que resultou na bem conseguida "Aguarela digital" com essa sensação de esfumado transparente de cores ténues, magnifico. e e "Estrada de Santiago" qua passa sobre essa belo arranjo natural com bugalhos, agora pelo que vejo, já tem demarcados os limites e as faixas são bem visiveis. Dois momentos sublimes que nós podemos apreciar mas que só tu viveste com "olhos de caçador" que plana sobre os tons quentes derramados sobre as vinhas do Vale da Vilariça.
Magnifico, MAGNIFICO! é o que me vem ao pensamento.
Um abraço com amizade.
Li Malheiro

Anónimo disse...

Olá
Excelente texto! Magnífica descrição: "O sol rasante...numa mistura leitosa, morna e ofuscante". Lindo, lindo....
Parabéns!
Abraço
Esmeralda

Anónimo disse...

que fotos maravilhosas!!!fantásticas..