20 outubro 2009

Caminhada pelo vale Covo



Fez ontem um mês que fiz uma caminhada memorável entre as freguesias de Candoso e Freixiel. Já várias vezes falei do vale escavado entra Candoso e Mogo de Malta, Vale Covo, e circulei pelas suas encostas, mas nunca o tinha explorado com calma, a pé. O percurso que estudei, com algum pormenor, partia de Candoso, percorria o vale até Freixiel e regressava a Candoso por outro caminho, percorrendo o cume das montanhas.
Fui de carro até Candoso: Deixei-o no fundo da aldeia, junto das alminhas, onde me pareceu melhor situado para o regresso.

Subi a rua principal até junto da igreja e parti em direcção ao poente pela rua do Malbarato. Pensei em subir à capela de Nossa Senhora da Assunção, mas não foi necessário. Assim que deixei as últimas casas da aldeia entrei, de repente, no coração das fragas decoradas aqui e além por frondosos sobreiros. Também havia alguns castanheiros e pequenas courelas com oliveiras bem cuidada.

Uma família de corvos vigiava-me dos fraguedos mais altos. Quando era criança aprendi a olhar estas aves com superstição, mas agora sei que os corvos são muito inteligentes e úteis. Vivem em grupos familiares constituídos por um casal e um ou dois filhos. Acompanharam-me dos céus durante grande parte da tarde, alternando entre as duas encostas do vale.

O caminho desce em zig-zag pela encosta de encontro ao centro vale. Concentrei a minha atenção nas árvores. Os sobreiros são excelentes sobreviventes! Nem os incêndios, nem a seca, muito menos o abandono conseguem matar estas árvores fantásticas, que apresentam uma impressionante verdura, quando o resto da vegetação agoniza pela falta de água. De onde em onde avistam-se antigos fornos de secar os figos. Aquele vale está cheio deles, tal como a Cabreira e a zona do Vieiro. Também encontrei algumas construções em ruínas.

Eram quase dezoito horas quando cheguei à “crica da vaca”. Para quem não sabe é uma nascente, em que a água “nasce” das rochas. Curiosamente ainda corria abundantemente! Repus as minhas reservas de água e rebusquei alguns bagos de uva nas vinhas recentemente vindimada. Estava praticamente a um terço do meu percurso e já as sombras cobriam parte do vale. Acelerei o passo até chegar à entrada de Freixiel, mais concretamente à forca. Durante alguns minutos saboreei a tranquilidade da aldeia, indiferente ao meu olhar. A luz chegava pela abertura por onde a ribeira da Cabreira se esgueira em direcção ao Tua.

Abandonei o local e parti a toda a pressa pelo caminho da Redonda que liga a Samões. A luz foi-se esvaindo e o céu cobrou-se de todas as cores que o fogo pode conter. A preocupação de andar o caminho não foi suficientemente forte para me fazer andar. Rendi-me ao colorido do horizonte e captei cada silhueta de sobreiro, cada rochedo dourado, cada sombra no caminho.

Só quando a noite caiu por completo parei de fotografar o por do sol. Faltavam-me sensivelmente 5 quilómetros para chegar a Candoso e tinha sério receio de me perder. A zona que percorria é muito, muito agreste. È um percurso íngreme e, talvez por isso, me orientei melhor. Quando encontrei um caminho meu conhecido sosseguei um pouco. Já tinha estado naquelas paragens no dia 18 de Julho de 2007 quando subi ao marco geodésico do Pelão.

O tempo rendia e não havia maneira de vislumbrar ao longe as luzes de Candoso! De repente, do meio da noite, surgiram algumas luzes. Cheguei à aldeia já depois das oito e meia da noite. Foi uma caminhada longa, mais de 12 quilómetros. Se demorei muito, foi porque gozei o tempo e me fartei de tirar fotografias. Este percurso é excelente, quem sabe vou repeti-lo noutra época do ano.

Percurso:
GPSies - Candoso_Freixiel_Candoso

6 comentários:

Transmontana disse...

Isto é que é uma vida saudável, cheia de exercício!
Admiro a sua coragem para tão grandes caminhadas!
As fotos estão muito boas!
Parabéns!
Cumprimentos
Anita

Esmeralda disse...

Olá
...inevitavelmente aconteceu-me o que, nem só quando estamos tristes, nos acontece... Estou que nem os vidros deste 13º andar - recheados de gotículas escorrentes, lindas que nem pérolas. Eu, na mesma condição, considero-me uma felizarda (que não linda)e este trabalho é, para mim, uma verdadeira joia.
Aníbal e Eulália, vocês sabem porquê...
Obrigada e Parabéns a ambos.
Abraço-vos com saudades
Esmeralda

Anónimo disse...

Mais uma bela descrição, como habitualmente.
Fico sempre com vontade de conhecer os lugares que tão bem nos descreve. Quem sabe, talvez um dia ...
Uma boa continuação.
Lurdes Pereira

Anónimo disse...

olá viva professor!!!
espero que estejam todos bem.
o que havemos de dizer sobre estas suas fotos, do passeio de ontem?
simplesmente MAGNÍFICO!!!
parabéns ao artista.
tudo de bom.
cumprimentos
fátima f.rosinha
freixiel

Fernando Silva disse...

Assombroso e indubitável querer, convertido em amor à natureza. Abrilhanta os olhos, afaga a saudade e concebe um arrepio contagiante. Reconhecido por nos presentear com tanta qualidade e dedicação. Bem-haja.

Fernando Silva

Aníbal Augusto disse...

Fotos maravilhosas, parabéns Aníbal. Fotos que não se apagam nunca da retina dos meus olhos... Árvores, pedras, fragas e caminhos por onde passei tantas vezes e que me viram crescer. Ah! os fornos dos figos... Dá vontade de cantar: ó tempo volta pra trás. Bem haja Aníbal por este reviver. Cintinue a nos dar esta alegria de fotografar as nossas lindas aldeias com suas belas paisagens.
Aníbal Augusto-Stª Isabel-SP-Brasil