A primeira peregrinação de 2011 aconteceu no dia 9 de Janeiro passado. Além de ser a primeira do ano, houve outras características que a tornaram bastante singular.
A escolha pela igreja da Santíssima Trindade deve-se a vários factores: nunca visitei esta igreja; a Trindade é uma das freguesias mais distantes da sede de concelho e ir até lá a pé era um desafio interessante.
Parti um pouco mais cedo do que o habitual, sabia que seria um percurso difícil e todo o tempo seria pouco. Quando Vila Flor acordou já eu seguia Facho acima, cheio de energia. Ao longe estouravam tiros por todos os lados. Era Domingo, dia de caça ao tordo. Embora já me tivesse aventurado noutras caminhadas aos Domingos, esta pareceu-me particularmente perigosa, principalmente quando me aproximava das aldeias. Apanhei enormes sustos em Roios, em Vale Frechoso e em Benlhevai. Em Vale Frechoso, perto do campo de futebol, senti mesmo os chumbos caírem à minha volta o que me levou a prometer não voltar a sair em dia de caça.
O tempo estava chuvoso e havia muito nevoeiro. Por trás da serra, a caminho de Roios, a paisagem estava cheia de manchas de nevoeiro e os caminhos ganhavam contornos únicos.
Apesar de estar seguro do caminho a seguir até Benlhevai, já percorrido numa caminhada no mês de Dezembro, o nevoeiro não me deixava orientar convenientemente. Conheço praticamente todos os montes e marcos geodésicos. Esses pontos mais elevados são referências que sempre me servem de orientação, qualquer que seja o percurso que faça. Com o nevoeiro, não me podia orientar por eles. Por outro lado, o nevoeiro funcionou como elemento chave em quase todas as fotografias que fiz nesta caminhada. Como sempre o equipamento fotográfico que levava era mínimo e, com a chuva, nem esse podia usar à vontade.
Para me proteger da chuva vesti um impermeável que funcionou às mil maravilhas contra a chuva mas provoca imenso calor. O percurso feito está cheio de subidas e descidas. Quanto ao calçado, não havia nada a fazer senão sentir a água e a lama e esperar que os pés aguentassem os maus tratos até ao fim do trajecto. Também tive dificuldade para ultrapassar alguns ribeiros.
Sentia-me quase um militar num cenário de guerra, a que não faltavam os tiros por todo o lado. A situação mais assustadora vivi-a antes e depois de Vale Frechoso. Mesmo na aldeia, não sei como as pessoas aguentam tanta disparo em redor.
Antes de chegar a Benlhevai, no meio do nevoeiro realizei algumas fotografias interessantes nos pinhais ou com sobreiros. A partir desse local a bateria da máquina fotográfica começou a fraquejar e tive de a economizar no resto do percurso.
Em Benlhevai tive que pedir ajuda sobre o caminho a seguir. Entrei demasiado na aldeia, quando a solução era muito simples. Basta contornar pelas traseiras as instalações dos cogumelos e seguir sempre em frente. O caminho, que até nem é mau em condições normais, estava completamente enlameado, mas já pouco me afectava. Segue quase paralelamente à estrada nacional e é um bom recurso para fazer também em BTT. Espero utilizá-lo mais vezes.
A certa altura cruzei-me com o que será o IP2. A passagem superior ainda estava a ser construída e tive que descer ao traçado da estrada para seguir em frente.
Já perto das duas da tarde entrei na aldeia da Trindade. Os restos da fogueira de Natal ainda ocupavam o largo em frente à igreja. Chovia copiosamente e cheguei em tão mau estado que achei melhor não entrar na igreja. Estava a decorrer a Eucaristia dominical que terminou pouco depois.
Estava terrivelmente cansado e encharcado, pelo que me limitei a esperar que me fossem buscar para regressar a Vila Flor de automóvel.
Foi uma caminhada extenuante, quer pela chuva, quer pelo nevoeiro, quer pelo perigos dos caçadores. Gostei do percurso que segui e espero voltar a fazer essa caminhada. São 18 quilómetros só por caminhos, que, apesar de tudo, me proporcionaram momentos e fotografias interessantes.
1 comentário:
Olá, Aníbal!
Este passeio mais parece um pesadelo! Tenha cuidado, pois, algum dia, ainda se pode arrepender por andar sozinho por estes "caminhos de Cristo", cercado pelo nevoeiro e chuva e ameaçado por algum tiro perdido...
Estive, ontem (e vim hoje), em Vila Flor. Gostei tanto de lá ter ido!Mas a vila está toda desventrada! Parece que vai haver grandes novidades, por lá!
Um abraço amigo!
Anita
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