Já vai longa a lista de
Peregrinações, restando apenas uma das inicialmente previstas. Trata-se da capela de Santa Marinha, na aldeia de
Meireles, freguesia de
Vilas Boas.
Apesar desta aldeia estar situada a poucos quilómetros de
Vila Flor, o acesso a
Meireles, por caminhos rurais, é complicado, para não dizer impossível. Todas as vezes que
tentei fazer Vila Flor-Meireles ou
Meireles-Vila Flor, quer a pé, quer de bicicleta, nunca o consegui. Não conheço nada a que se possa chamar um caminho que faça a ligação da estrada N214 (Samões - Trindade) a
Meireles. Por várias vezes foram feitas provas de todo-terreno que abriram alguns trilhos, mas, com o passar do tempo, acabam por ser cobertos pela vegetação espontânea. Não seria preciso muito para abrir uma ligação, faltando abrir talvez menos de dois quilómetros.
Com tanta facilidade, até pode parecer que seria um curto passeio até
Meireles, mas, para o melhor e para o pior, o nevoeiro decidiu marcar presença, proporcionando boas fotografias e alguma dificuldade em encontrar
Meireles, não muito longe, mas escondida no nevoeiro. O elemento mais emocionante foi mesmo o nevoeiro, porque a falta de chuva faz com que os campos tenham um aspeto bastante triste.
O percurso tinha alguns desvios para o tornar mais longo e acabou por proporcionar
bonitas paisagens, vistas de locais com alguma altitude.
À
saída de Vila Flor já havia algum nevoeiro. Não cobria toda a vila, aproximando-se timidamente vindo do
Nabo. É uma paisagem bastante habitual, com o nevoeiro a chegar às Portas da Vila, às vezes cobrindo metade dela, mas não conseguindo fazer frente a outras correntes que sopram do Barracão.
Subimos às
Capelinhas, e depois ao miradouro. Embora
Vila Flor seja sempre bonita quando vista daqui, pela manhã, a luz entra pelas Portas do Sol e é ainda mais
esplendorosa. O nevoeiro não a deixava romper, mas, mesmo assim o cenário era digno de admiração.
Pela crista da montanha chega-se ao marco geodésico do
Facho, bem no alto da Quinta das Escarbas. Depois, o caminho chega ao fim. Há alguns anos atrás o
Clube de Ciclismo de Vila Flor abriu um trilho para por ali passar a
Rota da Liberdade e tenho-o utilizado desde então. Não é fácil segui-lo porque as silvas estão a tomar conta dele, mas é de grande ajuda. Passámos depois pelo lugar onde existia o aterro, entretanto selado. A cenário é sempre muito triste. Como não têm acesso ao aterro, despejam o lixo em qualquer parte da serra.
Atingimos a estrada e seguimo-la durante algum tempo. O nevoeiro espreitava, vindo do
Cachão, cobrindo
Meireles. Deixámos a estrada por algum tempo para subirmos ao
Cabeço dos Gaviões, perto da Fonte de Seixas. Não podíamos escolher melhor miradouro! A visão encheu-nos a alma. Quando pensei nesta série de caminhas/peregrinações não pensei sentir tantas emoções a percorrer os caminhos, que até já conhecia.
Já perto do cruzamento para
Vale Frechoso deixámos a estrada em direção à Fraga Amarela. Mais uma vez o
cenário ficou admirável.
Quando nos aproximámos do local onde precisamente termina o caminho, entrámos no nevoeiro. Eu aprecio o nevoeiro, em termos fotográficos, mas deixou-nos completamente "às aranhas". Neste caso, havia a topografia do terreno que não deixava dúvidas - para chegar a
Meireles seria necessário descer. O local onde nos deslocávamos ardeu no verão passado. A vegetação não causava problemas, mas havia muitas rochas, quartzíticas afiadas que descemos com todo o cuidado. Orientámo-nos pelo canal de uma ribeira temporária que estava completamente seca. Passámos num local, penso que se chama Feteira, com enormes sobreiros, que no meio do nevoeiro pareciam monstros gigantescos.
Quando chegámos a terreno mais seguro, o nevoeiro não se via, estava por cima. Encontrámos alguns
aldeãos que ficam muito surpreendidos quando nos viram sair do nevoeiro. Encontrámos a Ribeira de Meireles, já minha conhecida de outras viagens que fiz a
Meireles.
Eram quase duas da tarde e ainda não tínhamos chegado a
Meireles! Não foi pela distância, nem pelas dificuldades do percurso, foi sim pela beleza das paisagens. Por várias vezes subimos ao alto das fragas e ficámos durante muitos minutos a admirar a distância. Que bom é poder saborear estes momentos...
Entrámos em
Meireles pelo fundo do povo, exatamente onde se encontra a
capela.
A construção é simples, caiada de branco, possivelmente da segunda metade do Séc. XIX. O estilo é barroco. Em granito apenas a torre sineira, central, muito simples, com dois pináculos e uma cruz em trevo. Não foi possível entrar na capela. Ainda andámos quase meia hora pela aldeia e não encontrámos um único habitante! A fotografia que mostro foi tirada em 2008 e mostra como o interior é simples mas muito luminoso e bonito. Na falta de altar, a cruz de Cristo está em lugar de destaque. Tenho dificuldade em identificar a imagem de
Santa Marinha, sem os seus elementos característicos. A história da vida desta santa é fantástica, embora seja difícil saber até onde vai a verdade e onde começa a lenda. Ainda há poucos dias que fotografei uma pintura de
Santa Marinha, ao lado das suas oito irmãs, na bonita
igreja de Lavandeira, concelho de
Carrazeda de Ansiães.
Caminhámos pela aldeia para nos aproximarmos da estrada, onde nos foram buscar de carro. A fome, o cansaço e o adiantado da hora, não permitiram olhar a aldeia como ela merece. Terei que voltar a
Meireles.