Como já alguns visitantes assíduos repararam, ultimamente tem havido menos novidades no blog, menos viagens, menos fotografias. Há várias razões, se calhar nem vale a pena falar delas. Mas há uma de que vou falar. Não é da política educativa desastrosa, não é do momento caótico da bolsa, não é do escalar de violência nos centros urbanos, é da máquina fotográfica que me acompanhou nos últimos anos.
Sempre fui um seguidor da marca Canon. Esta paixão começou desde cedo, fruto das inovações da marca. Guardo com carinho uma Canon FTB com 30 anos de existência, entre outros modelos da mesma marca, que fui adquirindo. O meu despertar para a hera digital deu-se com uma simples HP, das primeiras, com objectiva Pentax (HP PhotoSmart 715). Logo depois veio um sopro de paixão que me arrebatou para a Nikon.
A minha escolha, em Abril de 2003, recaiu na Nikon Coolpix 4300. Pequena, versátil, com uma reputação a nível de óptica acima de qualquer suspeita, mas com um preço de fazer pensar duas vezes. Posso afirmar que custava tanto como uma reflex digital da actualidade. Em 2004 começou a acompanhar-me À Descoberta de Miranda do Douro e em 01 de Setembro de 2006 mudou-se comigo para Vila Flor. Tal como eu, apaixonou-se pela paisagem, rendeu-se ao perfume das flores, extasiou-se com a frescura das encostas, banhou-se na humidade das nuvens e do nevoeiro. Registou dezenas, centenas de milhares de imagens, quadros de vida, instantâneos de estórias, miragens de beleza que se levantaram das montanhas e se gravaram em tons suaves, íntimos, em megas, gigabytes de pixels, onde se misturam as cores das estações, os orvalho dos vales, o suor das gentes e o sorriso das crianças.
De repente… apagou-se. Não suportou as ondas de pó em provas de BTT; não resistiu às chuvas inesperadas que nos surpreenderam no regresso a casa; e, … pior que tudo, não resistiu ao ciúme de uma adversária com mais de 10 Megapixels que teimou em a substituir nos momentos mais luminosos, jogando-a para segundo plano, tornando-a “a outra”, a mais discreta, a mais modesta.
Apagou-se em Santa Comba, a fotografar as primeiras flores de amendoeira. Decidiu que não estava mais disposta a esperar pelas provas de ciclismo, pelas pancadas no volante da bicicleta, pelas baterias constantemente gastas. Despediu-se do sorriso dos meus filhos em dias de aniversário, despediu-se dos beijos das flores nas tardes luminosas da Primavera, despediu-se da velocidade, do vento, da montanha, do verde, do silêncio, da solidão, da minha companhia … apagou-se.
Ainda não passou um mês, mas já sinto saudade. Só ela registava as cores vivas dos medronhos, as tons quentes do fim de tarde, o inatingível azul celeste. As panorâmicas que fiz com ela são ímpares; os automatismos que possuía rendiam-se completamente nas minhas mãos, permitindo-me todo o controlo: a velocidade, a abertura, a compensação, a sensibilidade, a focagem e a desfocagem, que tantas vezes a obriguei a fazer, descentrando o motivo, usando o contraluz, procurando o imaginário muito para além das linhas e das formas.
Mas… as amendoeiras floriram, as nabiças explodiram num amarelo berrante, as urzes pintam os cumes das montanhas, o céu azul enrola ao pescoço longas nuvens brancas que se estendem para lá do horizonte, e, eu, … não resisto à provocação que cada dia a natureza me oferece. Encomendei uma outra máquina fotográfica. Não um modelo topo de gama dos que desfilam nas vitrinas dos centros comerciais ou nas páginas da Internet. Uma coisa sóbria, com uns modestos 6 Megapixels, nada que possa envergonhar a desgastada Coolpix. Vistoso é o seu zoom de 10x, capaz de desvendar os mistérios na mais pequena natureza, perseguir as abelhas, fecundar as flores, e, quem sabe, procurar captar as paisagens trasmontanas com a mesma sensibilidade. O seu nome é Panasonic Lumix DMC-TZ2. Veremos até onde chega a sua sensibilidade.
1 comentário:
Olá
(só desde hoje me é possível comentar...)
OBRIGADA!
E eu digo: agora é um olhar para a frente...
Abraço
Esmeralda
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