No ano passado estive em Vilarinho das Azenhas no dia da festa de Nossa Senhora das Remédios, mas, este ano, foi diferente. Esta festa esteve sem se realizar durante alguns anos.
Cheguei ao Vilarinho pouco depois das 3 da tarde. Sem entrar na aldeia, aproveitei para subir em automóvel, ao cabeço onde se situa a capela. Dava a impressão de terem andado a espalhar água ao longo do caminho, mas já estava completamente seco. Sentia-se um calor abrasador, mesmo junto da capela onde devia circular algum ar! Não havia ninguém. Já se encontravam aqui alguns automóveis, percebi que se destinavam a levar as pessoas de volta à aldeia, no final da procissão.
Já conhecia o interior da capela, onde tinha estado há um ano atrás. Destacam-se os belos altares recuperados, depois de terem estado durante algum tempo ao abandono. Foi excelente terem-nos colocado nesta capelinha. A imagem de Nossa Senhora dos Remédios estava no seu lugar de sempre, dado que há outra imagem na igreja matriz, sendo esta a usada na procissão.
Fiquei um pouco desiludido de não ter encontrado ninguém no local. A minha imaginação fértil tinha criado cenários que talvez já não sejam muito frequentes nos dias de hoje. Apesar de as distâncias estarem cada vez “mais curtas” também o nosso tempo é cada vez mais escasso e poucos dispõem do suficiente para passarem algum no alto do cabeço, à sombra de um sobreiro, trocando algumas palavras ou mesmo matando a sede numa tradicional tasquinha.
Desci à aldeia. Não fui visitar o rio nem a linha. Esses são os locais no Vilarinho a que mais vezes me desloco. Subi pela Rua da Capela mas o movimento era muito pouco. Fotografei o nicho com a sagrada família à frente da Junta de Freguesia, e continuei rua acima.
Encontrei pouco depois, numa parede, um painel com algumas fotografias de Vilarinho das Azenhas. As fotografias são de minha autoria e fui também eu que fiz a sua selecção e arranjo. Parece-me que a aldeia está bem representada e recebi um feedback muito positivo de algumas pessoas que me reconheceram.
Quando passei no bar da comissão de festas abasteci-me de água. Estava decidido a a acompanhar a procissão e não queria partir desprevenido.
Junto da igreja já havia alguma movimentação. Os andores foram colocados no exterior e começou a Eucaristia. Estavam decorados com flores naturais, em várias tonalidades, num total de 6, incluindo Nossa Senhora dos Remédios e a padroeira da aldeia, Santa Justa. É muito perfeita a imagem da padroeira, deve ser muito recente. Mais rústica pareceu-me a imagem de Santa Bárbara, praticamente obrigatória em todas as procissões transmontanas. Estranhei não ver o Sagrado Coração de Jesus, mas há uma pequena imagem na igreja.
Terminada a Eucaristia, organizou-se a procissão: três cavaleiros à frente; os bombos dos Grupo de Gigantones de Valtorno; seguiam-se as bandeiras e estandartes e os andores. Atrás do andor de Nossa Senhora dos Remédios seguia o Sr. Padre Delfim, a Banda de Música de Vila Flor e, por fim, a população em procissão. Junto de cada andor seguia um grupo de pessoas, possivelmente familiares, mas que revelaram de grande importância no apoio no longo e difícil percurso.
O desenho das ruas da aldeia, que se estendem do Cimo do Povo, ao Bairro da Estação, não favorece um percurso contínuo. Embora tenha sido notória a preocupação em percorrer o maior número possível de ruas, a procissão teve algumas dificuldades. Desceu até à Capela do Espírito Santo, que contornou, subindo de seguida até ao Cruzeiro do Cimo do Povo, descendo de novo para seguir pela Rua das Alminhas em direcção ao Cabeço.
Gostei de encontrar a pequena capela do Espírito Santo aberta, nunca a tinha visitado.
O percurso pela Rua das Alminhas foi feito com muita calma, antecipando as dificuldades que se seguiram. Foi com grande sacrifício que a procissão seguiu pela Rua da Fonte e depois pelo caminho acima até ao ponto mais elevado, junto à capela. Havia a elevada temperatura, o pó do caminho, o peso dos andores, a distância e o declive. Alguns idosos tiveram muita dificuldade, felizmente foi distribuída muita água, pela comissão de festas, ao longo do percurso.
À medida que a procissão progrediu e se aproximou da capela, o sol foi descendo no horizonte. O cenário já é por si grandioso, mas com todo o aparato da procissão, música, fogo, andores, bandeiras, poeira, viveram-se momentos mágicos, de muita intensidade emocional. Foi no auge dessa emoção e sofrimento que os adores chegaram à capela. O silêncio ganhou mais espaço e todos nos sentimos mais próximos do sagrado.
Cheguei-me à porta da capela olhando Nossa Senhora dos Remédios em contraluz. Aos poucos foi despida das rosas brancas e dos antúrios. No cabeço são as fragas, os sobreiros e carrascos que decoram o seu altar de todo o ano.
Depois de algumas marchas tocadas pela Banda, carros e carrinhas carregadas de pessoas começaram a descer a encosta, deixando um rasto de poeira dourada como o sol que a iluminava. Fiquei até ao fim, “saboreando” cada momento. Pretendia descer a pé até à aldeia, onde tinha deixado o carro, mas acabei por aproveitar a boleia de um dos últimos carros que deixou o cabeço, já quando o sol se escondia no horizonte.
Não fiquei para o arraial. O meu amigo Reixelo já tinha o palco montado. Sei que com os seus colegas e a sua concertina proporcionou um arraial muito agradável, obrigatório nas nossas festas de Verão.
Ver vídeo da procissão aqui.
3 comentários:
Foi uma descrição tão perfeita, que parecia que eu ia, também, na procissão!
Parabéns pelo trabalho!
Cumprimentos
Anita
A sua maneira simples de descrever as coisas, as belas fotografias com que ilustra os seus textos, faz com que este seu blog seja expectacular. Todos os dias venho disfrutar destas maravilhas. Tenho aprendido muita coisa sobre este concelho, que é também o meu. Para quem vive longe, nada melhor do que matar saudades depois de um dia de trabalho.
Boa continuação neste seu trabalho.
Lurdes Pereira (França).
Sem duvida que está qui umbelo trabalho...
apenas penso que é pena nao colocar as fotos dos andores da procissao da senhora dos remedios(alto do cabeço)fotos de todos os andores e dos santos que ficaram nos altares da igreja matriz pois fiquei com curiosidade em saber quais os andores e quais os santos que ficaram nos altares.
o meu email é fernandoalmeida02@live.com.pt
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