14 setembro 2007
Depois aquele homem vem para a rua...
Toca o burro pela rédea. Chega-o ao tanque (mal acabado e duas torneiras amarelas com pouca água).
Encosta-se à pedra grande, abre as pernas, monta.
O jerico preto tem o pelo liso. Dá-lhe às pernas (é preciso saber...) e pica-o com a vara curta. Já ele mexe as patas e dá ao rabo. Não lhe ficam mal os atafais.
Chega do campo. Mete um copo, parte uma côdea, vem para o largo a comer o resto.
Descalço, o dia foi quente. As calças arregaçadas e os pés tresandam.
Que importa. O ar é comum, não acham?
Senta-se à esquina onde se apagou o ti Zé Borregas, sentado na cadeira, a rir-se como um perdido.
Os grilos cantam. A Lua vem vermelha. Grande. Grande... Hoje não dorme.
Tem que se levantar logo... É tempo de muita luta, é um moiro a trabalhar.
José Nascimento Fonseca*
Publicado no jornal ENIÉ, a 30-07-1975
*José do Nascimento Fonseca nasceu no Nabo a 22-12-1940 e faleceu a 27-07-1983.
Fotografia tirada no Nabo, a 01-09-2007.
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16 comentários:
Olá
...depois aquele professor chegava à sala de aulas e fazia-nos/tornava-nos alunos felizes...
Respeitava-nos, compreendia-nos e elogiava-nos...
...Fazia isso com todos... Este texto, para mim, encerra essas virtudes, características, daquele homem BOM e ATENTO.
Obrigada Aníbal pela grande escolha.
Abraço
Esmeralda
Com respeiro por todos que foram meus professores este teve sempre no meu coração um lugar especial.Porque acreditava e fazia-nos acreditar que era sempre possível chegar mais longe,bastava querermos e ele estava sempre lá para nos ajudar(a posição social da familia não contava).Nas palavras amigas desse bom homem, no seu olhar doce mas exigente, encontrei sempre as forças para as dificuldades inerentes a um meio familiar humilde e com muitos irmãos.
Na minha breve passagem pelo ensino,recebeu-me na escola de V.Flor,mais uma vez fazendo-me acreditar que era possível cumprir e alcançar a meta almejada.
E porque nunca o fiz antes a não ser no intimo do meu coração,agradeço hoje públicamente ao saudoso prof.Fonseca,muito do que hoje sou.OBRIGADO BOM AMIGO E MESTRE.
(obrigado Aníbal por esta oportunidade-como tu consegues quase sempre ir de encontro ao meu sentir!Um abraço e continua por favor...)-Rui Guerra-24/9/2007
Olá
...é uma exigência para mim:
"...Nas palavras amigas desse bom homem, no seu olhar doce mas exigente, encontrei sempre forças para as dificuldades..."
Rui Guerra, subscrevo e, Parabéns - por tão bem apresentar esta definição! É isto mesmo!
Será que fomos colegas?
Abraço
Esmeralda
Cara Esmeralda sou de 1961, "uma boa colheita",nascido e criado em Vila Flor e fui aluno do saudoso Prof.Fonseca, nas que hoje são as escolas velhas,naquele largo bem perto da Igreja e do Rossio.Colegas? deixo-te nomes como o Chico do Dr.Francisco o Ló,Edral,Zé Brás(já falecido),Rui Carvalho,Manuel Sil(etc).Eu morava na Rua de Sta Luzia onde o meu pai era barbeiro e forógrafo.Será que fomos mesmo colegas?Se é o caso fico feliz(é sempre bom recordar tempos felizes,despreocupados).
tenho na agenda há já vários anos, um possível? encontro dos nascidos em 1961,1960.Pois bem fique atenta,quem sabe seja desta vez.
Um abraço.-Rui Guerra.
Amigo Aníbal!
É para mim sempre um prazer enorme,abrir a janela do teu blog(acontece poucas vezes,estou sem NET,pois estou sem solução para um problema antigo).
Por favor continua além do prazer da descoberta ou redescoberta doutros lugares,vê-los com a arte da tua objectiva e dos teus textos é uma satisfação acrescida.
Quem sabe seja também a forma de reencontrar velhos amigos.
Um abraço -Rui Guerra
Olá Rui
- Sou dessa "colheita", só que nascida e criada em Freixiel;
- No ano em que a padaria do Sr Casímiro Fraga foi construida, fui eu aí para a vila, frequentar o meu 5º ano, na Escola Preparatória D. Vasco Pires de Sampaio (aquela a que te referes, é uma primária, ao pé de um forno onde cozem tão bom pão, não é assim?), no ano de 1973. Nesse ano, quem nos levava para a escola e trazia para casa era o senhor Fraga - senhor generoso - que vivia em Freixiel e que tinha um filho na referida escola, meu colega de turma - o Dinis.
- Em 74, fiquei hospedada em casa de uma senhora, solteira, chamada Dª Laurinha(ali prós lados do "Piripiri").
- Por aí andei até 78...
- Foram meus colegas de turma e ano:
O Dinis Fraga; Jorge Fidalgo Elvina Vaz; Adélia Escaleira; Mário de Carvalho D'Egas; Alice, Maria de Jesus e Cecílias, do Seixo; Um Edral ou uma Edral; uma Maria João filha de um dono de sapataria ao pé do Grémio; um Zé, que escrevia umas coisas; uma Amparo; uma gordinha de trancinhas de Meireles; Aúrea e Mariana de Roios? Rui do Arco e tantos mais a quem eu estou a ver a cara e que não me lembro dos nomes (às vezes lá consigo econtrar uns quantos...).
O Professor Fonseca foi meu professor entre 73 e 75, se não me engano.
- Ajudarei?
Grande abraço
(OBRIGADA ao Aníbal por me ter proporcionado estar com esta prosa toda)
Esmeralda
-Zé Braz, louro e de cabelo encaracolado?
Olá Esmeralda!
O grande amigo Zé Brás(já falecido)era(muito) moreno e cabelo negro.Acontece que n´s somos ambos de 61 mas os nomes que indicas-te serão um pouco mais jovens que nós:o Edral que falas,seria o Adelfo(irmão do Augusto meu colega),aliás todos esses nomes são meus conhecidos( a Maria João da sapataria,as Cecílias do Seixo o Dinis Fraga(vive no Porto),o Jorge Fidalgo(não será o da Farmácia Vaz?)a Áurea de Roios,o Mári de C.de Egas(está no Porto-é economistaI),etc,etc,e o teu nome também me é familiar(só não lembro o teu rosto),aliás o teu nome era muito comum em Freixiel e até em C.de Egas,certamente somos comhecidos e amigos.Entre 1973 e 1975 estudei em Sto Tirso(colégio Caldinhas e no colégio de V.Flor).
Um dia deste temos que juntar todos estes velhos amigos...
Um abraço-Rui Guerra-8/10/07
Olá
(...o Aníbal mata-nos!!!!!!)
Jorge Fidalgo, sobrinho do prof. Fonseca; não é João da sapata..., mas sim Fernanda, João, era a Roças, Edral, era Anabela...
Falei há 3 dias com a Paula Trigo!!! Trabalhamos a uns 200m!!!
Abraço
Esmeralda
Ol� Esmeralda.
A hora muito madrugadora,tirou-me alguma clareza de espirito.Mas sem repetir nomes,s�o na verdade todos meus conhecidos(as) e amigos(as).A Paula Trigo teve recentemente uma perda familiar triste(n�o soube e n�o consegui dar-lhe um abra�o).
(desculpa An�bal pelo abuso)! abra�o amigo
Rui Guerra
Olá Esmeralda e Rui, fico contente que o Blog esteja a servir para se "encontrarem". Independentemente de terem sido colegas, nutrem ambos um carinho especial pelo professor Fonseca, assim como por este Blog. Isso é amostra Q.B. para espelhar almas sensíveis, com uma escala de valores que admiro.
Força...
oi
eu sou a neta do prof.Fonseca, infelizmente nunca o conheci, mas graças a este blog, descobri muitas coisas sobre ele.
A minha mãe e a minha avó agradeçem a publicação e os comentários todos que lhe fizeram.
Muito Obrigada
Obrigado Jouanna
Desde o primeiro contacto que tive com a escrita do Prof Fonseca que me senti apaixonado e identificado com seu modo peculiar de sentir as coisas. Nunca o conheci, mas, pelo que li, não me enganei, basta ler os comentários dos que com ele conviveram. Tenho ainda alguns poemas e escrito que consegui juntar pesquisando no Museu de Vila Flor. Aos poucos irei publicá-los no Blog.
Obrigado pelas visitas.
Aníbal Gonçalves
Caro Anibal
Por acaso hoje ao pesquisar sobre Freixiel encontrei este blog e não pude deixar de reparar no poema do Pof. Fonseca, que eu conheci bem, pois sou sobrinho dele. Julgo até que serei o Jorge Fidalgo que a Esmeralda (onde páras) ali se refere num comentário; mas sou mais conhecido por Jorge Peixoto.Subescrevo todos os elogios ao meu tio e, como diz o poeta "se lá no assento etéreo onde subiste" me estás a ver, fica a saber que todos nós que fomos teus alunos, estamos orgulhosos de ti.
Jorge Peixoto
Olá, professor Aníbal,
Eu sou a viúva do falecido professor Fonseca, conhecida por Dona Anita, nessa linda terra de Vila Flor, onde leccionei o Primeiro Ciclo, durante mais de 30 anos.
Estou a dar os primeiros passos, vacilantes, no enorme mundo da Informática, e adorei o seu blog.
Agradeço-lhe imenso por ter ido buscar alguns documentos do meu marido e trazê-los à memória de todos os que com ele conviveram.
Continue com o seu valioso trabalho de dar a conhecer a todos as maravilhas da nossa terra.
Anita
Vila Real, 19/05/08.
Como está Dona Anita
Fico contente que tenha visitado o este Blog. Descobri os escritos do prof. Nascimento Fonseca em recortes de jornal que existem no Museu de Vila Flor. Gostei da sua escrita, já transcrevi alguns poemas e ainda tenho alguns fotocopiados para outras ocasiões. As palavras são como um bom vinho, precisam de uma boa ocasião para serem saboreadas.
Espero que se dê bem com estas tecnologias e que nos visite mais vezes. Cumprimentos
Aníbal G.
Bênção
Depois aquele homem vem para a rua...
Do Gavião ao Nabo
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