28 março 2008

Na Linha do Tua - 1


Hoje foi dia de partir à Descoberta. Já há algum tempo que não fazia um largo passeio por terras de Vila Flor. Estive fora uns dias mas o clima também não tem ajudado muito. Felizmente tem chovido alguma coisa mas muito pouco.
A nova máquina fotográfica (Panasonic Lumix DMC-TZ2) chegou por altura da Páscoa, mas ainda mal tive tempo para testar as suas potencialidades.
A aventura foi um pouco diferente do habitual. Fui até ao Cachão de carro; fiz o percurso entre o Cachão e a Ribeirinha a pé e voltei a Vila Flor de carro. Nunca tinha feito uma saída deste género mas pode ser que faça mais no futuro.

O destino do Rio Tua e a Linha do Tua está traçado. Pouco tempo nos resta para gozar as paisagens que nos oferecem. Infelizmente não acredito nos políticos e as promessas não passam disso, promessas. Há quem as esqueça na própria noite das eleições, há quem as faça sem acreditar nelas, há quem prometa para enganar. Vivemos numa época em que a opinião dos outros pouco vale face à inteligência superior que alguns têm, ou julgam ter.
Foi pensando nestas promessas de desenvolvimento que deixei a estação do Cachão. Caminhei ao longo do que resta do complexo nada entusiasmado com o que via. Ao longo da linha escorria uma grande quantidade de água suja e malcheirosa. Pouco depois entrei na tranquilidade da Natureza.




O percurso entre Cachão e Vilarinho das Azenhas pode ser feito por estrada, a poucos metros da linha, mas eu decidi ir pela linha, e, onde fosse possível, aproximar-me do rio.
Neste ponto há altas montanhas para Norte e para Sul sendo cortados a meio pelo rio que, ao longo dos milénios, rasgou o seu próprio caminho. É esta passagem estreita que dá o nome ao lugar, Cachão - local onde a água passa apertada e revoltosa, fazendo bolhas. Conheço lugares com este nome no Rio Douro e no Rio Sabor.

Vêem-se ainda pequenos recantos cultivados. Videiras, laranjeiras, pereiras, macieiras, marmeleiros e bastantes oliveiras são as árvores predominantes. Como árvores selvagens e arbustos encontrei choupos, freixos, salgueiros, sobreiros, urze, giestas, pilriteiro, carqueja, tojo, etc.



Só de vez em quando o sol abria os olhos, cintilando nas folhas juvenis das árvores que ladeiam o rio e dando algum azul à água. Aos poucos minha atenção era desviada para pequenas flores, delicadas, que rompem o manto verde da margem do rio criando um padrão mais colorido. Não faltavam aves saltando de ramo em ramo. Os passeriformes como o pintassilgo, o verdelhão, o tentelhão, o milheiro apareciam por todo o lado. Avistei também um gaio, uma ave de rapina que não consegui identificar, um corvo-marinho e uma garça. Os melros também saltavam nos silvados. Quase já em Vilarinho das Azenhas descobri um ninho com alguns ovos.
Ao chegar perto da ponte de Vilarinho das Azenhas, deixei a linha do comboio. A partir deste ponto, há quase sempre um caminho entre a linha e o rio. As imediações da ponte são muito procuradas pelos pescadores, hoje estavam três pescadores no local.

A caminhada foi perdendo o ritmo. A água neste troço corre mais calma. As represas que alimentavam as várias azenhas, continuam a amansar as águas. Quando nos aproximamos delas o som da água que se precipita ultrapassando as barreiras, dá um ar bucólico, um som que não cansa, mais relaxante do que música clássica.
Fui acordado do meu êxtase pelo som da automotora que descia de Mirandela ao Tua! Tanto queria estar a postos quando a automotora passasse que acabei por me esquecer dela!
Fui seguindo lentamente ao longo do rio, já conhecia o caminho. Segui-o pelo menos duas vezes durante o ano de 2007. Se não fosse o adiantado da hora teria passado horas e horas espreitando cada curva do rio, cada tufo de flores, os ninhos, os montes e as hortas que me receberam à chegada à Ribeirinha.
Percorri aproximadamente 8 km. Apesar do céu escuro e da pouca luminosidade foi um passeio muito agradável.

Leia a continuação desta Descoberta - Na Linha do Tua 2 (Ribeirinha - Brunheda)

4 comentários:

Dario Silva disse...

Caro amigo,

Espero que não se importe que eu divulgue o seu blog (também) sobre o Tua no portal www.ocomboio.net

Um abraço,

Dario Silva.

Anónimo disse...

Olá
Fotos maravilhosas!! Parabéns!!!
Abraço
Esmeralda

Luis G. disse...

Parabens pelo seu blogue. As fotografias que encontrei na 1ª pagina são muito bonitas, mas o que diz ainda é mais importante. É esta a triste realidade com que somos confrontados com os varios politicos que fômos experimentando nestes 34 anos de democracia - na esperança de encontrar alguns mais honestos e coerentes. Todos eles permitiram a degradação, o desisnvestimento e o abandono de coisas e pessoas por quase todo o interior de Portugual. Ao pensar no que está a acontecer ao Tua penso também no que aconteceu á outra bela linha do Corgo. Conhecia-a bem na minha juventude qdo ia de ferias ver os meus familiares da região de Ribeira de Pena (perto de Boticas....)e como ela era tão importante para as terras por onde passava ! Por isso dou valor ao que se passa agora no Tua. Ainda tenho uma réstia de esperança......será que não há ao menos um Presidente da Republica que tenha uma palavra a dizer sobre este desmantelar do nosso patrimonio ?

Luis Goncalves

Anónimo disse...

Fiquei muito emocionada, tanto com a descrição,quanto com a belíssimas fotos, captadas . Parabéns! Escolheu muito bem!

Trás-os-Montes é uma lindíssima província, que não merece tanto esquecimento do poder central. Haja ao menos quem a vá divulgando.

A linha do Tua, ao luar, é um espectáculo inenarrável de beleza e paz.

Uma vez mais, parabéns!

Obrigada!

Maria Teresa(uma bragançana)