05 junho 2007
Absoluto visível - João de Sá
Não vou escrever o mundo com palavras,
Mas com coisas que tenham peso e cor:
Castanheiros e nuvens e o rubor
Das mais amplas e vivas madrugadas.
A águia, a seiva, até as ágeis cabras
Nos olhos feitos de algas do pastor,
À espera que o bordão se abra em flor
E nasçam prados na aridez das lavras.
O odor das madressilvas sob a chuva.
O vento arremedando esquivo gaio,
Num ramo oco transformado em tuba.
O mais é um tremor na espessidão,
A crescer para dentro num desmaio
De terra, imitando o coração!
Poema de João de Sá. "Flores para Vila Flor", 1996.
A fotografia foi tirada dia 04 de Junho, entre Mourão e Valtorno.
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