06 junho 2007

Valtorno, nos fins de Maio


No dia 28 de Maio fiz um passeio de BTT até Valtorno. O dia estava muito agradável para se andar de bicicleta, luminoso, mas fresco, com o ar limpo e agradável.
O percurso que segui já o utilizei várias vezes. Passa junto ao campo de futebol de Samões, segue pelo Concieiro e encontra a estrada perto do Santuário de Santa Cecília. Desta vez aproveitei para dar uma voltinha no santuário mas dele falarei noutra altura. Voltei atrás e continuei por uma caminho que segue paralelamente ao vale que vai de encontro a Valtorno. A certa altura, comecei a descer, à direita, para o Vale. Com sorte iria encontrar o Fonte da Paijoana. Esta fonte tem uma lenda curiosa que contarei noutro dia. Toda a área envolvente da fonte está arranjada. Há iluminação, bancos e mesas, pena é que a erva trepa em cima de tudo. É necessária e urgente uma limpeza.
Segui até ao cruzeiro do fundo do povo com ideia de visitar a Capela do Santíssimo. Ainda não foi desta, como habitualmente, estava encerrada. Esta capela funciona como local principal de culto, uma vez que a igreja matriz se encontra mais distante e apenas é utilizada para algumas festas anuais e quando há um funeral de alguém mais influente na aldeia. Passei por lá no Domingos de Ramos e estavam a celebrar a eucaristia.
Procurando visitar pontos da aldeia onde não estive na visita do dia 4 de Abril passado, segui pela Rua da Esquina e depois pela Rua da Barreia. A quantidade de habitações, algumas novas e bem cuidadas, contrastava com o “silêncio” que se fazia sentir. A presença humana não era perceptível, só os pássaros cantavam por todo o lado dando vida a todos os recantos.Subi à antiga Escola Primária. Este edifício do Plano dos Centenários inaugurado em 1948 com uma sala e em ampliada na década de 70 definha no mais completo esquecimento. Longe vão os tempos de crescimento da população que levou à criação da cadeira de instrução primária, 1.ºgrau, em1865 e ao alargamento a uma escola feminina em 1902. Em 1940, o Governo de Salazar, extingue a escola masculina e em 2006, um outro governo qualquer, extingue a escola por completo.
Seguindo o canto dos pássaros, segui pela Rua da Escola, Rua do Frade, Rua do Cruzeiro até ao Cruzeiro. Segui pela Rua do Castelo que desci até chegar à Capela da Senhora do Rosário. Também estava encerrada. Segui em direcção a Poente mais alguns metros e encontrei outra fonte a Fonte da Senhora do Rosário. O desafio seguinte foi subir ao cimo de um monte paralelo à Rua do Castelo procurando justificações para esse nome. Cheio de cuidado, pois o lugar encontra-se ocupado por um colmeal, percorri o cimo do monte em todas as direcções. Há conjuntos de pedras soltam e restos de telha mas tudo parece muito recente. No local já funcionou uma pedreira e, se vestígios houvessem, foram com certeza apagados para sempre. Os habitantes com quem falei não têm memória de ali ter existido nada de referenciáveis.
Com o sol a aquecer deliciei-me a fotografar muitas flores selvagens que cresciam, nos lameiros, por entre os esqueletos negros de altas giestas, queimadas no fim do Verão passado.

Quando voltei à aldeia a Capela da Senhora do Rosário estava aberta. A inscrição em latim que figura no altar tem bem claro o ano de 1655. É bem possível que esta capela, antes de ser designada por Capela de Nossa Senhora do Rosário, fosse capela de S. Sebastião. Um documento de 1758 não refere qualquer capela com a designação da actual mas refere as capelas de S. Brás e a de S. Sebastião às quais se perdeu o rasto. Não sei se é como dizem alguns populares: - os ricos destruíram tudo – mas não foram só estas duas capelas que se “perderam”, a capela de S. Apolinário afunda-se num pantanal de água e vegetação e a de Nossa Senhora da Luz também está totalmente arruinada e votada ao abandono.
Mas voltando à capela de Nossa Senhora do Rosário, está muito bem cuidada. O tecto foi restaurado, as paredes também, mas mantém o seu aspecto rústico, a imagem é bela e singela, rodeada de rosas de todas as cores e de atenção dos crentes, como é hábito no mês de Maio.
Sobre a capela de S. Brás duas pistas me foram apontadas: alguns habitantes dizem que se situava perto da aldeia, no caminho para o S. Apolinário, junto de uma corte para animais. Outros afirmam que a porta da loja dos animais da “Casa da Bitcheira” é o que resta da porta da dita capela. Certo é que este meio pórtico é muito requintado para uma simples loja de animais!
Com a tarde a chegar ao fim, desci de novo ao fundo da aldeia e parti em direcção a Vila Flor, de novo com a sensação de que teria de voltar, muita coisa ficou por descobrir.

Quilómetros percorridos neste percurso: 25
Total de quilómetros de bicicleta: 1145
Total de fotografias: 24 300

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