11 junho 2007

À procura de vestígios arqueológicos no Nabo


No dia 9 de Junho pude partir à descoberta de mais um pouco do concelho de Vila Flor. A opção pela freguesia de Nabo, deve-se essencialmente a dois factores: o primeiro porque, apesar dos votos (no Blog) que o indicam como Próximo Destino, não tem estado muito nos percursos que tenho feito; segundo, porque ao indicar a Godeiros, no Nabo, como candidato a ser uma das “7 Maravilhas de Vila Flor” aguçou o meu apetite em conhecer o local.
Fui de carro. Não porque tenha alterado o meu gosto de contacto próximo com a Natureza, mas porque a Nikon 4300 já está calejada de tanto bater no guiador, mas não arrisco andar com o meu brinquedo novo (Canon 400D) de bicicleta.
Depois de me informar na aldeia sobre a localização de Godeiros e da Pala do Conde, desci ao fundo da aldeia e segui por um caminho rural recentemente arranjado até à Capela de Santa Cruz. A primeira vez que aqui estive (e única) foi quando participei na II Rota da Liberdade, em BTT. Tive pena do automóvel que tem quase duas décadas de idade e continuei a pé. Devido à construção de uma barragem próximo da Vide pela cota dos 200 metros começou a aparecer um largo estradão que seguia na direcção da elevação onde eu pretendia chegar. Os terrenos neste baixa junto ao ribeiro que passa no Nabo, na zona que se pensa venha a ser inundada, estão praticamente abandonados. Um agricultor que lavrava um bonito batatal garantiu-me que as suas terras também já lhe tinham sido compradas! A bacia da futura barragem está limpa de vegetação, optei por seguir por aí e abandonei o caminho. Tentei adivinhar a azáfama que estas terás terão vivido. Lá estão as paredes, os poços, as noras que regavam de farta água uma faixa estreita de hortas ribeiro abaixo. Encontrei mais alguns terrenos cheios de tomate, batateiras e milho, como só nos solos profundos cresce.
Inundado de pensamentos e de suor cheguei à Pala do Conde. A pala, em si, pouco tem de interessante. É uma cavidade natural com alguns metros de profundidade criada por uma laje xistosa. Sobre ela encontra-se algo de interessante. Trata-se de uma sepultura escavada na própria fraga que forma a pala. Esta sepultura, escavada nesta rocha mais resistente, é possível que pertencesse a alguém especial. Assim nasceu a lenda de que se trata da sepultura do Conde, senhor do Castelo de Godeiros. Dei comigo a pensar – Se o Conde foi enterrado aqui, onde descansam os restantes? Parece-me que na limpeza da bacia da barragem, algo mais foi descoberto, falta saber o quê. Resisti à tentação de subir a montanha, à conquista das terras deste conde, optei antes por seguir em frente em direcção ao local onde a barragem começa a ganhar forma.

Mal me desviei um metro do caminho, chamaram-me à atenção alguns pedaços de cerâmica. “Tropecei” nela por acaso, mas não havia dúvida, a concentração de pedaços de cerâmica é enorme. Sem dúvida que existiu aqui um habitat romano. Andei em círculos, a área onde se encontram vestígios, é enorme mas quando me aproximei do Ribeiro Grande que recolhe água do Seixo, Mourão (Valtorno e Carvalho de Egas!), não encontrei mais vestígios. Junto da enorme torre que já se levanta na parte mais funda da futura barragem senti-me minúsculo.
Voltei para trás. De novo no local onde encontrei cerâmica atravessei o caminho e comecei a subir a encosta. Também da parte de cima do caminho há vestígios da zona ter sido habitada. Curiosamente não encontrei nenhum pedaço de barro que me mostrasse terem existido por ali tégulas! Encontrei sim pedaços de barro com diferentes espessuras e graus de finura.
De repente surgiu-me à frente um marco em granito. Não há por aqui granito! Tratava-se de um bloco de granito, com cristais bastante finos, disposto aparentemente como um marco. Na face virada a Sul tem gravadas as letras D. P., não faço a mínima ideia do que significa. Mais curiosas são as marcas que apresenta noutra face. Ou eu estou com visões ou este bloco de pedra fazia parte do umbral de uma porta e não de uma porta recente. Os rasgos serviriam para encaixar a porta que giraria sobre um eixo (não deviam existir dobradiças).

Continuei a subir ao topo do monte conhecido por Godeiros. Comecei a encontrar paredes construídas em círculo, rodeando o monte. Não é muito fácil ter uma visão do conjunto, há muito mato rasteiro e muitos carrascos. Toda a área se encontrava revolvida recentemente. De início pensei que talvez fosse algum javali mas não, foi algum “caçador de tesouros”. Espero que não tenha destruído em vez de preservar. Em termos fotográficos é difícil conseguir algo interessante para mostrar, apenas se podem fotografar pequenos lanços de muros por debaixo da vegetação.
No topo do monte encontram-se vestígios do que poderá ser uma atalaia. As paredes não têm mais de meio metro de altura, a vegetação tomou conta de tudo.
Do alto de monte tem-se uma bonita visão para o Vale da Vilariça, em direcção à Junqueira ou à Horta da Vilariça. Também olhando para Norte de vê o Nabo, espreguiçando-se nas suas ruas alongadas.
Desci a encosta concentrando-me agora na vegetação rasteira. Pequenos tufos de delicadas flores rosadas chamaram-me a atenção. Tratava-se do conhecido fel-da-terra (Centaurium erythraea) usada na medicina popular como tónico digestivo ou para baixar a febre.
Com febre estava eu a ficar, ou seria fome? A hora de almoço há muito que tinha passado, fazia um calor sufocante e a ameaça de chuva concretizou-se antes mesmo de eu chegar ao Nabo.
Fazendo fé no painel de azulejos da Capela da Santa Cruz que diz:
Tendo nascido engegado
De muito longe aqui vim
Tomei banho e bebi água
Com saúde forte vou assim.
Bebi da milagrosa água, antes de partir envolto numa nuvem de pó, em direcção à aldeia. Ainda fiz uma paragem na capela de Nossa Senhora do Carrasco. No cabido exterior penduradas nas colunas de granito havia bonitos ramos de rosas vermelhas a espicaçar a minha criatividade. Com elas dei por encerrada esta minha caminhada “À Descoberta do Nabo”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá.
Grande aventura, arqueologia e paisagem com a companhia de uma Canoon... pois eu também quero ir na próxima.
O "DP" no granito não tem a ver com os marcos do tempo do Marquês de Pombal e da região demarcada?
Eu pessoalmente não conheço o Nabo, e tenho cá amigos de lá, que me dizem que é mesmo um paraíso e tu comprovas com esta crónica descritivo/fotográfica sublime como sempre.
Um abraço.
Li Malheiro

Anónimo disse...

Olá
Gostei de ler o que resultou desta procura. Com tantos dados a reter, também esta pode ser uma verdadeira aula de História da história do Nabo!
Obrigada por tamanha dedicação!
Abraço
Esmeralda

Anónimo disse...

Saudades do meu Nabo, muito obrigado por me proporcionar esta alegria de ver o Nabo durante o ano. Excelente trabalho, parabéns.

Anónimo disse...

TENHO MUITAS SAUDADES DESTE PEDACO DE MUNDO AO VER ME DEIXOU MUITAS RECORDACOES OBRIGADO POR DESCOBRIR ESTA MARAVINHA